Já pensei em colocar o meu coração numa bandeja de prata e dá-lo a comer aos tigres da Malásia. Mas, depois pensei: e se eles não gostarem?
(...) surge em mim uma ideia ainda mais pitoresca. A de pegar nele e depositá-lo num cofre dourado pelo tempo, qual tarefa delegada a um caçador das histórias de encantar (...)
Mas, depois coube em mim este pensamento: e se o pobre do meu órgão circulatório... asfixiar com a falta de ar limpo e puro na dita caixinha claustrofóbica? Não me parece.
Por conseguinte, achei melhor empreender todos os meus esforços mentais numa ideia mais frutífera.
Foi aí que o imaginei colado ao céu a substituir a lua da noite! Deixava-a descansar, pobrezinha, que já não dormita desde os primórdios do universo para alumiar a madrugada dos cinco continentes. Aliás, falo dos cinco continentes de hoje, porque os geólogos dizem que eles estão em constante movimento e que até já foram um só, segundo uma teoria qualquer da tectónica de placas. Mas, tal como uma avalanche que varre a aldeia da encosta da montanha, esta ideia sumiu-se-me: o que será de mim se o sol se zangar com a amante, por se deixar substituir por algo tão pouco brilhante? E se se divorciam e ele foge para um sistema vizinho? Muito arriscado, condenaria a humanidade a uma eternidade sem praia, por isso desisti veemente da ideia.
E fico assim, pensativa, com a sobrancelha semi-franzida, a ser invadida por vazios pouco dictantes e que de nada servem a não ser para provar a inépcia que me acomete. Por isso, e com alguma relutância, invisto na possibilidade de to dar. Com relutância, é verdade, porque, fazendo bem as contas, eu entrego-te o meu bem mais precioso sem a promessa de qualquer retorno. É sabido que ficarei sem ele, mais pobre, talvez.
Mas alegra-me a ideia de existir alguém, algures, detentor de dois, ao invés de um só, corações. E o meu, bem, o meu dá-te um ar mais distinto.
(...) surge em mim uma ideia ainda mais pitoresca. A de pegar nele e depositá-lo num cofre dourado pelo tempo, qual tarefa delegada a um caçador das histórias de encantar (...)
Mas, depois coube em mim este pensamento: e se o pobre do meu órgão circulatório... asfixiar com a falta de ar limpo e puro na dita caixinha claustrofóbica? Não me parece.
Por conseguinte, achei melhor empreender todos os meus esforços mentais numa ideia mais frutífera.
Foi aí que o imaginei colado ao céu a substituir a lua da noite! Deixava-a descansar, pobrezinha, que já não dormita desde os primórdios do universo para alumiar a madrugada dos cinco continentes. Aliás, falo dos cinco continentes de hoje, porque os geólogos dizem que eles estão em constante movimento e que até já foram um só, segundo uma teoria qualquer da tectónica de placas. Mas, tal como uma avalanche que varre a aldeia da encosta da montanha, esta ideia sumiu-se-me: o que será de mim se o sol se zangar com a amante, por se deixar substituir por algo tão pouco brilhante? E se se divorciam e ele foge para um sistema vizinho? Muito arriscado, condenaria a humanidade a uma eternidade sem praia, por isso desisti veemente da ideia.
E fico assim, pensativa, com a sobrancelha semi-franzida, a ser invadida por vazios pouco dictantes e que de nada servem a não ser para provar a inépcia que me acomete. Por isso, e com alguma relutância, invisto na possibilidade de to dar. Com relutância, é verdade, porque, fazendo bem as contas, eu entrego-te o meu bem mais precioso sem a promessa de qualquer retorno. É sabido que ficarei sem ele, mais pobre, talvez.
Mas alegra-me a ideia de existir alguém, algures, detentor de dois, ao invés de um só, corações. E o meu, bem, o meu dá-te um ar mais distinto.
C.B.
Que texto lindo! :)
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