Ainda em relação ao pagamento de 3,95 euros à hora que pagam aos enfermeiros.
Não há muito a acrescentar ao que este grande Senhor (Francisco Moita Flores) escreveu.
"Foi a doença e o hospital, que por várias
vezes pontuaram a minha vida, que me fizeram conhecer a vida e o
trabalho da enfermagem. As horas intermináveis de serviço, a atenção
cuidada aos doentes, a capacidade de sorrir e animar um paciente mesmo
quando o cansaço já se lhe adivinha nos olhos. A atenção profissional
aos sinais clínicos, às campainhas, aos gemidos de dor, a insónia para
que aqueles que cuidam possam descansar,
os actos clínicos cautelosos, explicados, rigorosos, cumprindo-se
enquanto profissionais e cidadãos. São a parte mais decisiva de toda a
organização do sistema de saúde. Nas suas mãos morrem muitos. Das suas
mãos renascem para a vida muitos mais, enquanto o médico chega ou não
chega. São o verdadeiro sangue da vida hospitalar. O apoio primeiro. O
primeiro olhar. E, por vezes, a última palavra. São homens e mulheres
com as mãos mergulhadas na dimensão maior da sua existência, reparando,
tratando, cuidando de doentes, de convalescentes, de moribundos. Nunca
lhes agradeceremos tudo aquilo que merecem, centrado que está o olhar
nas decisões do médico. Mas são a essência das nossas expectativas de
sobrevivência quando nos confrontamos com a doença. Pagar-lhes 3,95
euros à hora não é apenas tratá-los mal. É sujeitá-los à humilhação e à
miséria. É transformar seres humanos, superiormente qualificados, em
indigentes a quem se dá a esmola para que não morram de fome. É uma
vergonha que os envergonha e nos envergonha. É um País não ter respeito
por si próprio embora esteja de braços abertos ao intermediário. Aos
parasitas. Um estado que permite isto deveria ser pago à vergastada."
Be
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